A Polícia Civil divulgou, nesta quarta-feira, 10, uma atualização detalhada sobre o crime que vitimou quatro homens em Icaraíma, no noroeste do Estado. O caso, que completa quatro meses, foi esclarecido quanto à dinâmica, local e horário das mortes, embora a autoria ainda siga sob investigação. As informações foram apresentadas pelo delegado da Polícia Civil de Umuarama, Gabriel Menezes, um dos responsáveis pelo inquérito.
De acordo com as investigações, as vítimas — Diego Henrique Affonso, Robishley Hirnani de Oliveira, Rafael Juliano Marascalchi e Alencar Gonçalves de Souza Giron — foram executadas com disparos de arma de fogo no dia 5 de agosto de 2025, por volta das 12h30, em uma propriedade rural no distrito de Vila Rica, em Icaraíma. A Polícia Civil afirma que não houve sequestro, manutenção em cativeiro ou tortura. As mortes teriam sido instantâneas.
Cobrança de dívida antecedeu o crime
A apuração apontou que Alencar Giron havia contratado Diego Affonso para realizar a cobrança de uma dívida junto a Antônio e Paulo Buscariollo. O serviço de cobrança teria o custo de 50% do valor devido. O montante da dívida, porém, permanece controverso: enquanto Alencar alegava que o valor era de R$ 129 mil, os devedores emitiram notas promissórias que somavam R$ 255 mil. No início das investigações, ainda surgiu a informação de que os cobradores estariam tentando recuperar uma dívida de até R$ 1 milhão.
Conversas obtidas pela Polícia Civil mostram que Alencar demonstrava receio quanto à cobrança, afirmando que os devedores teriam envolvimento com atividades ilícitas. Apesar disso, Diego o tranquilizava, garantindo que não haveria retaliações.
Últimos passos antes da execução
No dia 4 de agosto de 2025, as vítimas chegaram a Icaraíma e foram até Vila Rica para um primeiro contato com os devedores, mas não chegaram a um acordo. No dia seguinte, pela manhã, Diego enviou áudios à esposa relatando que um dos devedores estaria armado e que tentariam novamente resolver a situação.
Câmeras de segurança confirmaram os deslocamentos do grupo. Às 12h04 do dia 5 de agosto, os quatro homens deixaram Icaraíma em uma Fiat Toro branca com destino a Vila Rica. Esse foi o último registro das vítimas com vida.
Segundo a Polícia Civil, ao chegarem à propriedade rural ligada à dívida, os homens foram surpreendidos por uma emboscada. Pelo menos cinco armas de fogo, de calibres distintos, foram utilizadas. Os disparos partiram de três pontos diferentes, atingindo o veículo pelas partes frontal, traseira e lateral esquerda.
Morte no local e ocultação dos corpos
Os laudos periciais indicam que os disparos atingiram regiões vitais, como cabeça e tórax, tornando remota qualquer chance de sobrevida. A quantidade de tiros e o acúmulo de sangue no interior da caminhonete reforçam que as mortes ocorreram ainda dentro do veículo.
Após a execução, os corpos foram transportados na própria Fiat Toro até o local onde foram enterrados. Em seguida, o veículo também foi levado a outro ponto e ocultado. Fragmentos do automóvel encontrados junto aos corpos indicam que as vítimas foram retiradas às pressas da caminhonete logo após a execução.
Denúncias anônimas recebidas pela Polícia Civil relataram uma grande quantidade de disparos na região, em data e horário compatíveis com o crime, o que corroborou a versão apurada.
Perícias confirmam múltiplas armas e execução
Exames balísticos apontaram o uso de armas de calibres .223, 5.56, .45, .40, 9mm e calibre 12. Parte dos disparos foi realizada com armas longas, como fuzis. Perícias também confirmaram marcas de tiros em diversas partes da Fiat Toro, além da presença de sangue em bancos, carroceria, caçamba e objetos pessoais das vítimas.
Os laudos de necropsia descartaram qualquer indício de tortura ou cárcere privado. As lesões constatadas foram exclusivamente provocadas por projéteis de arma de fogo. O estado de conservação dos corpos foi considerado compatível com o período em que permaneceram enterrados, afastando a hipótese de que as vítimas tenham sido mantidas vivas após o ataque.
Investigações seguem e envolvem agentes públicos
Apesar do avanço na reconstrução da dinâmica do crime, a Polícia Civil informou que a autoria ainda está sendo investigada. O detalhamento completo não será divulgado antes da conclusão dos trabalhos.
No dia 9 de dezembro, mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra dois agentes da Polícia Civil lotados em Icaraíma. As investigações apontaram possível comunicação entre servidores públicos e investigados após o crime. A apuração, agora sob responsabilidade da Corregedoria da Polícia Civil, busca esclarecer se houve vazamento de informações que possa ter facilitado a fuga ou a destruição de provas. Até o momento, não há indícios de envolvimento direto de agentes públicos nos homicídios.
Como medida preventiva, os policiais investigados serão removidos da unidade local e realocados em outras delegacias. Segundo a Polícia Civil, o rigoroso sigilo e a compartimentação das informações desde o início das investigações tiveram como objetivo preservar provas e garantir a lisura do inquérito.
A Polícia Civil reafirma que as diligências continuam e que novas informações serão divulgadas assim que a investigação for concluída.
Ouça os áudios
ÁUDIO 01: Diego para Alencar
ÁUDIO 02: Diego para Alencar
ÁUDIO 03: Alencar para Diego
ÁUDIO 04: Diego para Alencar
ÁUDIO 05: Diego para Alencar
ÁUDIO 06: Diego para Alencar
ÁUDIO 07: Diego para esposa

Via GMC-online